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"Bituca – Milton Nascimento para Crianças": ao mestre, com carinho

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 12/01/2024 às 17:32:47

Faz quatro anos que esta obra foi montada. A peça faz parte do projeto ‘Grandes Músicos para Pequenos’, um dos melhores projetos infantis que conheço. Tive a sorte de assistir Raulzito, Pimentinha, Elzinha e Luiz Gonzaga. São perfeitos, com uma linguagem apropriada. As crianças adoram e os adultos também!

O grupo procura apresentar clássicos musicais para a plateia mirim. E nós agradecemos! Impossível não pararmos para pensar a responsabilidade desse grupo artístico, afinal eles trazem nomes que estão perpetuados na história da música brasileira. São clássicos musicais que nos tomam de emoção sempre que os ouvimos. Quando citamos Milton Nascimento, falamos de poesia, de uma arte de mais alto nível. Isso é um fato!

A obra é perfeita, com um conflito genial para que as crianças se divirtam diante do que lhes é apresentado. No final, elas estão felizes e os adultos com olhos marejados. Como não se emocionar com a arte de Bituca? Aliás, de onde surgiu esse apelido? Assista à peça!

Em cena, estão Udylê Procópio (Milton), que venceu o Prêmio CBTIJ 2017 de Melhor Ator por esse espetáculo; Martina Blink (Mãe); Aline Carrocino (Maricota); Anna Paula Black (Mãe Maria); Marina Mota (Professora); e Pedro Henrique Lopes (Salomão). A trama acompanha a história do pequeno Milton que, ao ficar órfão aos dois anos de idade, é adotado pelos patrões de sua avó. Chegando a Minas Gerais, o menino precisa lidar com o preconceito da sociedade por ser negro e ter pais brancos. “O musical é uma homenagem a Milton Nascimento. Então, nos inspiramos no universo dele para debater temas como adoção, bullying e preconceito racial de maneira lúdica”, explica o diretor Diego Morais. “O espetáculo também é uma grande homenagem à maternidade e à ampliação dos modelos de família”, conclui.

A obra conta com gracejo a vida do artista e mergulha na luta contra o racismo, esse que um dia foi experimentado também pelo artista protagonista, Udylê Procópio, por ser o único aluno negro em uma das escolas que estudou.

Quanto à adoção, assunto necessário hoje para menos problemas de preconceito amanhã, é muito importante. “Como ele é filho dela se não parece com ela?”. A frase é impactante e precisa para o mundo atual, para essa transição emblemática para os novos modelos de família.

Se temos aí um artista vibrante e altamente preparado como Udylê Procópio, com uma voz semelhante a de Milton, não podemos deixar de mencionar a antagonista Aline Corrocine, fabulosa em seu fazer artístico através da Maricota, a aluna chata, cheia de ideias medíocres. Fantástica a atuação da atriz! Mas o bem vence o mal, e eu adorei isso.

Pedro Henrique é o amiguinho de Milton que o defende todo o tempo. Pedro está em todas as obras desse projeto, sempre atende com suas performances, sem tentar trazer holofotes para ele. Suas encenações são leves e consistentes.

Mediante à ideia de querer embranquecer o menino Milton na escola por meio de maquiagem e roubar suas músicas, a menina apronta, mas no final se rende à graciosidade do que foi trazido para o texto.

Ana Paula Black atua como mãe do protagonista. Ela está uma graça, bem posicionada em seu papel, que chega através do tempo, da alma. Me emocionei nesse momento, pois é quando aquela mãe que não está mais entre nós, nessa esfera de corpos vivos, diz que sempre estará com o filho. Apenas quem perde uma mãe entende, com muita sensibilidade, que mães de verdade não nos deixam, mesmo quando se vão.

Um cenário que se movimenta o tempo inteiro, com tons pastéis, dá uma boa dinâmica à obra. O cenário e os figurinos da Clívia Cohen estão consoantes ao musical. Tudo muito romantizado, é como discerni os elementos que ela trouxe ao palco. Uma costura graciosa. Se não me engano, o fuxico está no fundo do palco. Não posso afirmar que houve uma pesquisa para a tal construção, mas o fuxico foi criado pelos africanos e chegou ao Brasil através da Corte Portuguesa. Foi o que li, também não tenho certeza. Também afirmo que, um dos estados predominantes com esse tipo de artesanato, é Minas Gerais, terra de Milton.

Quanto aos figurinos, há excelência no trabalho, pois trazem muita verdade da vida de um menino. Uniformes escolares delicados, assim como a indumentária dos professores e da mãe de Milton, a mãe adotiva, que cá entre nós, é uma graça de atriz. A voz de Martina Blink é lindíssima.

Quanto às músicas... Caramba, chegam na hora certa no texto, com graça aos nossos ouvidos! Às vezes com ritmos diferentes, mas que não fazem diferença na musicalidade das letras comoventes do grande artista.

Estava muito quente quando assisti e me questionei sobre a coragem e disposição dos pais ao levarem seus filhos ao teatro debaixo de um sol escaldante. Mas eles fizeram certo: além de presentearem os filhos com músicas de imenso valor para todos os brasileiros, também dão às crianças um final de tarde sensacional no espaço verde da EcoVilla Ri Happy, localizada no Jardim Botânico. Penso que nem o ar condicionado do espetáculo tem tanto valor para os pequenos como a oportunidade de correrem e suarem através da liberdade do espaço verde que os esperava.

Desdobrando os meus sentimentos, apenas rezo para que esse projeto nunca termine, seja forte e atravesse o tempo, nessa luta constante dos artistas brasileiros. Tudo que assisti desse projeto é aprovado: bom e luxuoso, mesmo com tons pastéis e artesanais. Eles sabem entrar e sair de Minas Gerais, da comunidade onde nasceu Elza ou das brincadeiras de roda de Elis Regina com imensurável sofisticação, tanto dos elementos teatrais quanto dos textos e das belíssimas e empolgantes atuações. Amei!

FICHA TÉCNICA:

Direção: Diego Morais

Direção Musical: Guilherme Borges

Texto: Pedro Henrique Lopes

Elenco: Udylê Procópio, Martina Blink, Aline Carrocino, Anna Paula Black, Marina Mota e Pedro Henrique Lopes

Cenário e figurinos: Clívia Cohen

Iluminação: Carlos Lafert

Visagismo: Vitor Martinez

Produção e realização: Entre Entretenimento

SERVIÇO:

Bituca – Milton Nascimento para Crianças

Temporada: 06 a 28 de janeiro de 2024

EcoVilla Ri Happy: Rua Jardim Botânico, 1.008 – Jardim Botânico

Telefone: 3553-2616

Dias e horários: Quintas às 17h, sábados e domingos, às 16h.

Ingressos: quintas, R$ 70 e 35 (meia-entrada). Sábados e domingos, R$ 80 e R$ 40 (meia-entrada). Em todas as apresentações há uma cota de 20% para ingressos social, com o valor de R$ 39,00 (inteira) e R$ 19,50 (meia-entrada).

Lotação: 350 pessoas

Duração: 60 minutos

Classificação: Livre

Venda de ingressos: na bilheteria da EcoVilla ou no site Eventim (www.eventim.com.br/artist/bituca/)

A bilheteria funciona às quintas das 14h às 18h, sextas das 13h às 22h e, aos sábados e domingos, das 10h às 22h.

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